31.1.13

O que é o Intercâmbio?

Intercâmbio é mudança. Rápido, brutal, bonito, dolorido, colorido, incrível, inesperado, esmagador e, acima de tudo, uma mudança constante. Mudança de estilo de vida, de país, de língua, de amigos, de pais, de casa, de escola, de simplesmente tudo!

Intercâmbio é perceber que tudo que eles te falaram antes era errado, mas também certo de alguma forma.

Intercâmbio é passar de achar que você sabe quem é, pra não ter mais nenhuma ideia de quem é, e passar a ser uma pessoa nova. Mas não totalmente. Você ainda é a mesma pessoa de antes, só que você "pulou num lago congelado". Você sabe como é ficar sobre a sua própria responsabilidade. Longe de casa, sem ninguém que você conheça realmente. 
E descobrir que, na verdade, você consegue encarar tudo isso. 



Intercâmbio é aprender a confiar. Confiar em pessoas que, no início, eram só nomes em um pedaço de papel, confiar que eles querem o melhor pra você, que eles se importam. Confiar que você tem a força de enfrentar um ano por sua própria conta, enfrentar um ano separado de tudo que importava antes. Confiar que você vai ter amigos. E ver essa confiança sendo comprovada.


Intercâmbio é pensar. O tempo todo. Sobre tudo. Pensar sobre as roupas estranhas, as comidas estranhas, a língua estranha. Sobre o por quê de estar aqui e não em casa. Pensar em como vai ser quando você voltar pra casa. Pensar em como aquele menino vai reagir quando você ver ele de novo. Pensar em o que as pessoas estão fazendo no seu país natal. Sobre o quanto esse fuso-horário é idiota. Sobre o que é certo e o que é errado. 

Sobre o quão idiota ou rude você foi com alguém sem querer ter sido. Sobre qual é o sentido disso tudo. Sobre o sentido da vida. Sobre quem você quer ser, o que você quer fazer. Sobre quando você deve ir pra casa depois da escola, e quando você deve sair com os amigos e ficar até mais tarde. Sobre alguém que você nem sabia que existia alguns meses atrás. E tentar entender o que ele acabou de falar.

Intercâmbio são pessoas. Aquelas incríveis pessoas, que olham pra você como se você fosse um alienígena. Aquelas pessoas que tem medo de falar com você. E aquelas que realmente conversam com você. Aquelas que sabem seu nome, mesmo sem você nunca a ter encontrado. Aquelas pessoas que te dizem com quem não conversar. Aquelas pessoas que falam sobre você nas suas costas, e que fazem piada do seu país. Aquelas pessoas que você não te dão a mínima. Aquelas que você ignora. E aquelas que te convidam pra casa delas. Que te mantém sã. Que se tornaram suas amigas.

Intercâmbio é música. Novas músicas, músicas estranhas, músicas legais, músicas que você vai lembrar pelo resto da vida como se fossem a trilha sonora do seu intercâmbio. Músicas que vão te fazer chorar porque as letras expressam exatamente aquilo que você está sentido, tão longe. Músicas que vão te fazer sentir como se pudesse ter o mundo todo na palma das suas mãos. E aquelas músicas que você fez. Com os melhores músicos que você já conheceu.



Intercâmbio é desconfortável. É se sentir fora do lugar. É conversar com pessoas das quais você não gosta. É tentar ser legal o tempo todo. São erros e erros muito grandes. É frio, frio congelante. É saudade, é um estranho silêncio e é se sentir culpado porque você não conversou com alguém no seu país. Ou se sentir culpado porque você perdeu alguma coisa por estar conversando no skype.

Intercâmbio é bom. É sentir conexão com seus pais hospedeiros aumentar. É ouvir sua irmã hospedeira perguntar aonde a irmã(o) dela(você) está. É saber em qual prateleira a nutella está. É conhecer pessoas de todos os lugares. É ter um lugar pra ficar em quase todos os países do mundo. É ter 4 novas famílias. Sendo uma delas um enorme grupo das melhores pessoas de todo o mundo.

É cozinhar comida do seu país e não fazer nada errado. É ver paisagens maravilhosas que você nunca soube que existiam.

Intercâmbio são intercambistas. As pessoas mais incríveis do mundo todo. Aquelas pessoas de todos os lugares que sabem exatamente como você está se sentindo a aquelas que se tornaram seus melhores amigos mesmo você só tendo os visto 3 ou 4 vezes durante o seu intercâmbio. Pessoas, que demoraram quase uma hora pra dizer adeus uma pras outras. Aquelas com bandeiras, blusas e cadernos cheios de mensagens. Em todos o mundo.



Intercâmbio é se apaixonar. Por esse incrível, estranho e maravilhoso país. E pelo seu país natal também.

Intercâmbio é frustante. Coisas que você não pode fazer, coisas que você não entende. 

Coisas que você diz, mas que significam extamente o contrário daquilo que você queria dizer. Ou até pior.

Intercâmbio é entendimento.

Intercâmbio é inacreditável.

Intercâmbio não é um ano na sua vida. É uma vida em um ano.



Intercâmbio não é nada daquilo que você esperava, e tudo que você queria que fosse.

Intercâmbio é o melhor ano da sua vida até agora. Sem dúvida. E também o pior. Sem dúvida nenhuma.

Intercâmbio é algo que você nunca vai esquecer, algo que sempre vai fazer parte de você. 

É algo que ninguém em casa vai entender realmente.

Intercâmbio é crescer, é perceber que todos são iguais, não importa de onde eles sejam. 

Que existem pessoas legais e malas sem alças em todos os lugares. E que só depende de você o quão bom ou ruim o seu dia vai ser. Ou todo o intercâmbio.


E é perceber que você pode ficar sob seus próprios cuidados, que você é independente. Finalmente. E tentar explicar isso pros seus pais.

Intercâmbio é dançar na chuva ou na neve sem nenhum motivo, chorar sem nenhuma razão e rir ao mesmo tempo. É um turbilhão de todas as emoções possíveis.

Intercâmbio é tudo. E intercâmbio é uma coisa que você não pode entender sem ter passado por isso.
Autor: desconhecido
Tradudção: Raysa Paris Fonseca

21.1.13

A vida da Carol na Argentina



            No final de 2011, a Carolina Araújo, de São Luís de Montes Belos, ganhou uma bolsa de intercâmbio oferecida pelo AFS Intercultura Brasil para passar um ano estudando na Argentina. Ela concorreu com alunos de Goiás, Distrito Federal, Tocantins e Mato Grosso (estados membros da Região COE – Centro-Oeste) e embarcou no começo do ano para Santiago del Estero, cidade no norte argentino. A Carol retornou ao Brasil na semana passada e fez um relato de sua experiência poucos dias antes de voltar. Confira:

 Carol

“Lembro como se fosse ontem do dia em que a diretora da minha escola chegou dizendo que eu era uma dos quatros finalistas para concorrer à bolsa de intercâmbio para a Argentina. Foi uma surpresa, uma grande surpresa, pois eu nunca havia pensado em fazer isso; nunca havia pensado que iria passar na prova, fiz por fazer. Mas talvez seja o meu destino. Fiz a avaliação final, que foi uma entrevista por telefone com o AFS do Rio de Janeiro. Não lembro muito, só lembro que meu irmão ficava fazendo gracinhas e me desconcentrando. Lembro-me também da última pergunta, que foi: "Sabendo que são quatro concorrentes e só um vai ganhar, por que eu escolheria você?".
Uma semana depois, eu acho, em uma sexta-feira, me ligaram e me deram a noticia que sim, eu!, eu era a ganhadora da bolsa de intercâmbio! Que sim, eu!, eu iria viver um ano na Argentina! Só lembro que passei o telefone para minha mamãe e ela entrou em desespero de tanto chorar. Mas, bem, esse foi só o começo, e foi difícil até eu ou meus pais aceitarem, permitirem isso, porque afinal foi uma surpresa, e eu tampouco tinha certeza que era isso mesmo que eu queria para minha vida. Ficar um ano longe e sem ver a família, os amigos, em um país totalmente desconhecido, não sabendo falar, não entendendo nada, morar com outra família, pessoas que você nunca viu na vida, com outros costumes, tendo que fazer uma nova vida.
Mas, eu creio que, se Deus me fez passar por isso não foi por acaso, era porque era para eu vir mesmo. Meus pais me disseram que, se era o que eu queria e se fosse realmente bom para mim, eu podia! Passou o ano, passaram os seis meses, tinha a viagem marcada para 23 de fevereiro, mas era como um sonho. Não acreditava, não tinha nada preparado, meu visto tampouco tinha ficado pronto, tinham até me mandado uma mensagem avisando que adiariam minha viagem. Mas, se for para algo dar certo, dará, não importa; no final, tudo dá certo. Viajaria em uma quinta-feira e uma semana antes, na sexta, o meu visto ficou pronto e, bem, foi uma correria na última hora.
No último dia no Brasil eu não podia parar de chorar, não conseguia me despedir de todos, não queria despedida nem nada, porque afinal, era um "Tchau" e no outro ano estaria de volta, mas era um "Tchau" muito doloroso. Nunca esquecerei a cena de quando eu estava na janela do avião vendo minha mamãe com meu pai e meu irmão e sua toalhinha, chorando. Hoje, lembrando-me desse dia, não sei como tive tanta coragem e força para fazer isso. Foi Deus. 

Voluntários e intercambistas do AFS Argentina

Ao chegar à Argentina, na minha cidade, na minha nova família, não entendia nada e só sabia falar "Gracias" e "Buenas Noches". Foi muito estranho. O começo foi um pouco complicado, até eu me acostumar, porque quando eu pensava em Brasil e Argentina, achava que era a mesma coisa, mas não, não, há muitas diferenças. No princípio, sentia muitas saudades, me sentia sozinha, sem ninguém em quem confiar. Na escola tinha que fazer novas amigas, não tinha ideia do que iria me passar.
Tive que mudar de família, graças a Deus para uma bem melhor. Tive problemas no pé, fiquei mais de um mês andando de muleta. Eu diria que os quatro primeiros meses foram os piores da minha vida. Aprendi, cresci, cresci com os problemas, aprendi com a distância. Mas fui forte, tive que crer em mim, aguentei firme, porque sabia que não estava aqui por acaso, muitas pessoas acreditavam em mim, e me pus a imaginar quantos e quantos gostariam de estar no meu lugar. Mas não era nada demais, era apenas una etapa do intercâmbio, depois já estava acostumada com tudo, já gostava de tudo, da família, da escola, das amigas, de tudo, da Argentina...
De verdade? Tudo foi como um sonho, foi perfeito, e tampouco posso acreditar que tudo isso me passou. Minha família, meus pais argentinos, minhas irmãs, minhas amigas, a cidade. Enfim, foi um sonho inesquecível, uma experiência excelente, melhor seria impossível. Sei que nem mil palavras, ou milhares de fotos, contariam os momentos que vivi aqui. Tudo isso ficará guardado para sempre em meu coração, e agora posso dizer que tenho um segundo coração Argentino. Só quem viveu para sentir.
Gostaria de agradecer do fundo do meu coração a todas as pessoas que acreditaram em mim, a todas que me deram força para estar aqui e que muitas vezes, mesmo longe, foram meu escudo. Obrigada mamãe, papai. Obrigada minha FAMÍLIAAA, minhas amigas, a todos! Eu sei que não tive muito contato esse ano com vocês, mas eu tenho certeza que estavam torcendo por mim aqui e eu aí com você. É como o vento: eu não vejo, mas eu sinto o amor de vocês.
Obrigada ao AFS BRASIL, a todos do AFS. É simplesmente impossível agradecer tudo o que fizeram por mim, pela chance que me deram de estar aqui. OBRIGADA, OBRIGADA por me fazerem viver um sonho. E principalmente a Deus, porque sem ele nada seria realizado. Hoje posso dizer com toda a certeza: "DEUS É FIEL". Às vezes achamos que demora, mas não, tudo ocorre no tempo certo. Desculpa, mais não há como agradecer, serei eternamente grata a vocês.
E hoje aqui estou, depois de um ano, no final do intercâmbio, já já voltando para casa. Mais uma vez em um momento difícil, a despedida, mas agora é diferentem, é um ADEUS. Se eu vou sentir saudades de aqui? Sim, muitaaaaaaaaaaaaaas! Vou sentir muita falta daqui, de tudo. Algum dia sei que vou voltar e quero trazer todos. Mas eu sei e sinto, já é hora de voltar ao melhor lugar do mundo, minha casa - Brasil.
E bem, tudo tem o seu tempo, o melhor ainda está por vir e apenas posso dizer: OBRIGADA por tudo!”


15.1.13

Um homem precisa viajar




“Um homem precisa viajar.
Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV.
Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu.
Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor.
Conhecer o frio para desfrutar o calor.
E o oposto.
Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto.
Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser.
Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”

Amyr Klink